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Segunda-feira, 17 de Novembro de 2025

Notícias/Mundo

Estiagem afeta 2 milhões na Bahia em 2025 e escancara falhas na gestão hídrica.

Crise no sudoeste do estado deixa criadores sem recursos e gera suspeitas sobre compra de milho pelo governo; especialistas apontam negligência histórica e cobram políticas públicas estruturantes.

Estiagem afeta 2 milhões na Bahia em 2025 e escancara falhas na gestão hídrica.
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“Não choveu quase nada este ano. A gente está assim, pagando uns aluguelzinhos aos vizinhos com uma dificuldade muito grande. Sinceramente, a coisa não está fácil. A pastagem quase não criou, não deu mantimento e as coisas estão mais caras. A gente só cria mesmo porque moramos na roça e não tem outro meio de sobrevivência”. Maria Lúcia do Prado, 65 anos, cria bovinos e caprinos em Belo Campo, no sudoeste da Bahia - um dos 76 municípios com situação de emergência por estiagem reconhecida pelo governo federal. Os dados são do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

A estimativa é de que 2 milhões de pessoas já foram afetadas pela estiagem em 2025, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Atualmente, o maior número de cidades impactadas concentra-se no sudoeste baiano, com 20 municípios afetados.

São consideradas em estiagem as localidades acometidas por um período prolongado de baixa ou nenhuma pluviosidade, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. As ocorrências mais antigas nos municípios baianos datam de novembro de 2024, totalizando mais de seis meses de escassez.

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O geógrafo e professor titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Rosalve Lucas, explica que os impactos em relação à estiagem são sentidos inicialmente nas atividades vinculadas às chuvas, como a produção de alimentos, o abastecimento de água e a pecuária.

“Tradicionalmente, essas atividades são as primeiras a serem atingidas. Elas são a base e, na sequência, outros setores serão impactados, como a produção de alimentos industrializados, a comercialização de alimentos, a inflação, a qualidade de vida, a saúde. É um efeito cascata e que também vai afetar as grandes cidades; pode até citar o aumento da insegurança alimentar”, salienta Rosalve.

No início de maio, Vitória da Conquista, maior cidade do sudoeste e terceira maior cidade do estado, entrou para a lista do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional como cidade em situação de emergência por conta da estiagem.

Cosme Lima, de 55 anos, trabalhava com horta e criação de porcos até pouco tempo atrás, mas, com a elevação dos custos de insumos e a escassez de água, precisou abandonar a agricultura. Hoje, ele vive em Belo Campo, onde relata dificuldades no acesso à água potável e enfrenta o alto custo da alimentação animal.

“Hoje você paga R$ 85 num saco de ração de milho. Quando chega aqui, está mais de R$ 90. O trigo está R$ 58, a soja R$ 156. Tudo é caro”, relata.

“Se o governo fornecesse um financiamento com juros baixos, ajudaria muito” Maria Lúcia do Prado.

 

Criadora de animais

A dificuldade de alimentar os animais também é destacada por Lúcia: “Se o governo fornecesse um financiamento com juros baixos, ajudaria muito. É para a gente alimentar o carneiro, o gado. A gente compra milho, caroço de algodão. Mas, com o valor que está, não tem condições”, desabafa.

No mês passado, o governo Jerônimo Rodrigues (PT) iniciou a distribuição de milho para pequenos criadores de animais. No entanto, o que chamou atenção foi a compra das sacas por meio da Cooperativa de Produtores Rurais (Cooperfarms), ao custo total de R$ 26 milhões - o equivalente a R$ 104 por saca. O valor levantou suspeitas, já que, no mercado, o mesmo produto é vendido por cerca de R$ 72, uma diferença de mais de 44%.

O deputado estadual Sandro Régis (União Brasil) pediu que o Ministério Público da Bahia (MP-BA) apure. “Não estamos questionando o auxílio em si, mas sim a forma como ele está sendo executado. O governo da Bahia tem o dever de buscar o melhor preço possível, principalmente em uma situação de emergência”, declara ele.

 

Impactos em cadeia

O pesquisador Rosalve Lucas explica que o sudoeste baiano enfrenta uma condição intrínseca de escassez hídrica. “A nossa região é geograficamente situada numa área com poucos recursos hídricos naturais, pouca evasão e rios, e na região semiárida, com temperatura elevada, altitude, sendo comum acontecer o déficit hídrico. Então, é um processo natural, repetido, não é uma coisa que esteja fora do padrão climático”, emenda.

Rosalve Lucas destaca que os efeitos desta estiagem são agravados com a passagem de fenômenos climáticos extremos, como o El Niño e a La Niña. Para ele, há uma negligência por parte do governo estadual na gestão dos recursos hídricos e na implementação de soluções para mitigar os efeitos da estiagem.

“É uma questão que não tem a devida atenção do governo do nosso estado para a população que vive das atividades vinculadas à agricultura e ao clima” Rosalve Lucas.

 

Geográfo e professor da UESB

“A estiagem que nós estamos passando não é uma surpresa. Sempre teve e sempre vai ter. Ou seja, se fosse um problema exclusivamente produzido pela estiagem, significaria que todos os lugares que têm estiagem também estariam assim. É uma questão de políticas públicas, de distribuição de recursos, de construção de obras para minimizar os danos. Uma questão que não tem a devida atenção do governo do nosso estado para a população que vive das atividades vinculadas à agricultura e ao clima”, enfatiza.

Já o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) informou que cumpre seu papel de “fornecer dados técnicos e relatórios de monitoramento que embasam as ações da Defesa Civil estadual e municipal. A partir desses dados, a Defesa Civil atua na articulação de medidas emergenciais”.

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